O Carnaval de Bonito (final)
O ano de 1919 foi marcado por um espetáculo muito vibrante, no cenário carnavalesco do Bonito. Esta alegria foi devida ao término da Primeira Guerra Mundial. Sobre o fato transcrevemos do Jornal "A Evolução", do dia 21 de fevereiro daquele ano, os relatos acerca dos blocos que homenagearam o evento.
"No domingo, um chic e bem organizado bando de distintas senhoras e senhoritas perambularam pelas ruas, em homenagem ainda aos aliados na grande catástrofe que passou. (...) Distintas e Bem confeccionadas representando as bandeiras das respectivas nações e mais a "Paz" e dois diplomatas improvisados. Distiguirmos nas suas fantasias ricas: Senhoras, Judith Mattos Portela, "Brasileira", Leonice Cabral Varejão, "Francesa", Firsia Souto Cabral, "Portuguesa"; Senhoritas: Julieta Mattos, "Americana", Dalila Mattos, "Belga", Hilda Vilar d'Azevedo, "Inglesa" , Dolores Cardona, "Italiana", Senhorinha Bezerra de Melo, "Sérvia", Maria Isabel, "Japonesa", Heronita Cabral, "Grega", Corina Gomes, "Romena", Deli Pontes, "Montenegrina", - a pequena Maria Aroucha, a "Paz", Senhores Firmino Cabral Filho e Athenor Lins Portella, "Diplomatas".
Em todos os momentos da história carnavalesca do Bonito, a banda musical, atuante à época, se encontrava presente. Sem deixar de se mencionar aqui a grande massa popular, que animava exuberantemente a festa.
O animadíssimo clube "Momos & Comos", já estinto, foi fundado no carnaval de 1920. O Jornal "A Evolução", que circulou no dia 21 de fevereiro do mesmo ano fez-lhe o comentário de estréia:
"Na segunda-feira exibiu-se o clube "Momos & Comos", com seu belo préstito de lindo carros e hilariantes críticas. O seu estandarte que foi conduzido por um jóquei a cavalo, é um trabalho bem feito e de gosto, e primoroso e artístico desenho em veludo, com enfeites. (...) À frente do séquito, o porta bandeira transitou ladeado por garboso esquadrão de lanceiros, em número de doze cavaleiros, junto ao esquadrão, seguia uma sofrível orquestra, a qual acompanhava três figuras engraçadas: "Praciano", "Jeca-Tatu" e "Mané Chique-Chique". Vinha depois , o carro chefe. Uma linda flor encarnada, continha, entre suas pétalas, bem elevada, uma encantadora criança de verde, uma perfeita esperança, na sua significação imaginária. após esse carro, uma espirituosa crítica ao feminismo. Um moço sintetizava esse pedido, animando uma jovem senhora, já exaltada pela doutrina que prega a igualdade do belo e do feio. ao lado desta, o marido, um pequerrucho, com um utensílio para acalentá-la, impugnava, quase vencido, a exaltação da mulher."
O segundo carro, apresentado por esse clube, era uma gigantesca cabeça de burro, seguido por um outro representando cinco navios com as bandeiras brasileiras e alemãs. Entre dois espaços, um caboclo, com a bandeira nacional. e uma menina, com as cores francesas. Essa última, lá no navio francês. Os carros estavam ladeados com as figuras de "Zé Povo" e a "Diplomacia", a discutirem o caso dos navios que a Nação brasileira alugou à França. por final, fechava o desfile, um carro cotendo enorme sol, com a denominação - "poeria do sol".
Outrora, um dos reis momos mais famosos foi Antônio Simplício Gomes da Silva. Durante toda a época dos festejos de momo, havia um prato tradicional - o filhós, preparado por Nainha, Pajeú e Antônia Ferreira de Albuquerque (minha avó pelo lado paterno).
Para animar as tarde momescas, existiam as limas-de-cheiro, feitas de cera e recheadas de um líquido perfumado, em cores várias. Das antigas brincadeiras do período momesco, a lima-de-cheiro era a mais solicitada, devido às mútiplas cores que possuíam. Quando o folião a atirava em alguém, a vítima ficava com as vestes coloridas e perfumadas, desaparecendo-lhe, em pouco tempo, o artifício das cores.
Hoje, infelizmente, nada disso existe mais. pala manhã o mela-mela, à tarde alguns blocos saem à rua. As batalhas de confetes e serpentinas desapareceram. O corso, tão animado outrora, tornou-se melancólico. O carnaval bonitense, com o passar do tempo, está perdendo a sua rica tradição.
Fonte:
Livro: Bonito: Das Caçadas às Industrias
Flávio José Gomes Cabral
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