Em 1973 a Fábrica de Discos Rozenblit resgatou em quatro Lps, uma produção de 50 anos de música do querido maestro, abrangendo valsas e frevos de rua, de bloco e canção, numa coletânea documental que não apenas revela o talento e a criatividade de Nelson Ferreira, mas que é um retrato de nossa própria história sócio-cultural, feito através da música, atingindo às camadas mais distintas da sociedade por diversas gerações.
Nelson
destacou essa história, não apenas revivendo pessoas e nomes famosos,
mas também homenageando a cidade através de suas ruas. Muitas delas,
hoje, não existem mais. O progresso, com todas as suas conseqüências,
fez o seu trabalho, destruindo-as e, com elas, parte da história da
cidade do Recife ou dando-lhe novos nomes, o saudoso maestro, no
entanto, preservou-as, plenas de vida em seus versos.
"Ruas de minha infância
Quantas lembranças deixaram em mim
Augusta... Hortas... Alecrim..." (...)
Fez
também adivinhações, brincou de "Boca de Forno", de "Coelho sai"; fez
evocações, falou de sua "Veneza Americana" e de seus tipos populares; da
Revolução de 30, da II Guerra Mundial, dos momentos românticos, alegres
e tristes; disse da natureza humana, da tradição e dos costumes de sua
gente.
Antes de morrer, fez questão de demonstrar a enorme gratidão pela cidade que o fez seu cidadão:
"Olhar o meu Recife,
Amar a sua gente
Que a graça da bondade
Sempre me concedeu.
Vivendo um mundo assim
De ternura e de beleza
Quanto é bom envelhecer
Assim como eu." (...)
Ainda
em vida foi homenageado por prefeitos, governadores, clubes e
entidades, tendo recebido das mãos do Presidente Médici, a condecoração
como Oficial da Ordem Rio Branco.
O
maestro Vicenti Fittipaldi declarou, em depoimento para um livro sobre
Nelson Ferreira, ao médico, ator e compositor Valter de Oliveira: "Ele
era como Mário Melo, Ascenso Ferreira, Valdemar de Oliveira, uma das
instituições da cidade. Era, com sua música, aquilo que Garrincha foi
com o seu futebol, a "alegria do povo". Tenho plena convicção de que
daqui há duzentos anos, "Gostosão" e a "Evocação", serão tocados e
cantados pela gente do Recife: não serão mais de Nelson Ferreira, serão
folclore; como são "Casinha Pequenina", "Prenda Minha" e o "Meu Limão,
meu Limoeiro" que, sem dúvida, também tiveram um autor."
Casado
desde 1926 com Dona Aurora, que durante toda sua vida lhe serviu de
musa inspiradora, além de companheira, amante a amiga, Nelson confessava
sempre aos amigos que os maiores orgulhos de sua vida era ser
pernambucano e poder despertar para Aurora. Foram anos e anos de doce
felicidade com o filho e depois os netos, no antigo casarão da Av. Mário
Melo, onde hoje se encontra a Praça Nelson Ferreira, na qual, em sua
homenagem, lhe foi erigido o busto.
Nelson
Ferreira, veio a falecer no dia 21 de dezembro de 1976, no Hospital
Português do Recife e seu corpo foi transportado para o "hall" da Câmara
Municipal, onde foi velado. O itinerário, em direção à sua última
morada, ele o fez nos braços do povo ao som dos seus frevos e evocações.
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