A Cultura Cafeeira (Parte 2)
Logo ao amanhecer daquele dia, grande multidão de povo de todas as classes sociais, afluía para o ponto do esperado comboio, o extremo da Rua Imperial, hoje Oitenta e Nove, e por todas aquelas em que tinha de passar o caminho para o edifício da Associação Comercial.
Às 9 horas da manhã chegou a expedição, e depois de delirantemente recebidas entre aclamações que a um só tempo rebentaram, inumeráveis girândolas de foguetes e o toque festivo do Hino Nacional executado por todas as bandas, partiu a expedição entre imenso cortejo, que foi assim disposto. Depois das bandas de músicas dos corpos de guarnição que rompiam o préstito, seguiu-se o pavilhão nacional e os membros das Associações Comercial Beneficente e Agrícola, e depois o imenso concurso de povo, calculado em número superior a 4.000 pessoas. Seguía-se então o comboio, composto de 55 cargas de café, conduzidas por cargueiros que traziam aos chapéus topes de fita das coras nacionais.
À frente do comboio caminhava um velho sertanejo a cavalo, com um lindo ramalhete de flores naturais, trajando a roupa original de que usam os sertanejos almocreves. Em seguida vinha três carros da Companhia Locomotiva enfeitados com os arcos de folha de canela, fumo e café, conduzindo o primeiro uma banda de música, e o segundo 80 latas com fumo de corda e 5 fardos com folhas próprias para o fabrico de charutos, também de produção do Bonito. Fechavam o préstito 11 carroças da Sociedade União Industrial Beneficente, puxadas por bois enfeitados e cobertos de ricos panos de labirinto, crochê e rendas.
Chegando o séquito à sede da Associação Comercial, realizou-se ali uma sessão solene, principiando com a aposição do quadro de honra na sala da referida Associação. Depois dessa solenidade, teve início o leilão das 110 sacas de café. O produto da arrematação atingira a soma de 14:782$000.
O objetivo da Associação Beneficente era mostrar a importância da preciosa rubiácea e incentivar o seu cultivo na Província. E, para maior júbilo, a festa da recepção do primeiro comboio de café entrado no Recife, teve farta divulgação em todos os jornais da Capital pernambucana. Diz ainda Pereira da Costa, que o evento animou a todos os cafeicultores da Província. A Associação Comercial, no objetivo de difundir o cultivo de café, mandou editar e distribuir uma "Descrição dos festejos promovidos pela Associação Comercial Beneficente, para receber o comboio vindo da Vila do Bonito, em 1876.
Fonte: Livro: Das Caçadas às Indústrias - Flávio José Gomes Cabral
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