A
sua exploração no território do Bonito foi um pouco tardia. Pioneiros
neste ramo foram o português José Francisco Veloso e o Cel. Félix
Fernandes Portella. O primeiro desenvolveu o cultivo da rubiácea numa
das serras do Macaco, depois Veloso. "O Imparcial", antigo jornal do
Bonito, na circulação do dia 2 de março de 1935, notificou o Ato nº 9 do
então Prefeito Gonçalo Sabino Pinheiro, em que o mesmo resolveu colocar
nomes de pessoas ilustres em várias escolas da Zona Rural do município.
Entre alguns nomes estava o do Coronel Félix Fernandes Portella, por
ter sido o iniciador do plantio cafeeiro no Bonito e o primeiro a
exportar a primeira remessa à Capital da Província.
Dispondo o Bonito de terras apropriadas à cultura cafeeira, esta
foi-se multiplicando consideravelmente, tanto que, por volta do terceiro
quartel do século XIX, o bonito se avantajara perante os demais centros
produtores da rubiácea na Província.
A cultura de café preponderou sobre as demais culturas econômicas
até a metade do século passado. Sua estagnação foi registrada quando o
processo de industrialização conseguiu firmar-se no Brasil; é que a
monocultura do café deixou de constituir o sustentáculo da economia do
País e em particular a do município bonitense.
No Bonito, a cultura cafeeira beneficiou-se dos seguintes fatores:
condição ecológica favorável, fertilidade do solo, baixo custo do
investimento para a compra de equipamentos, ociosidade de mão-de-obra
escrava provocada pela decadência da cultura da cana-de-açúcar.
Segundo Pereira da Costa, a produção do café no município, em 1872,
atingiu a 800 arrobas; em 1873, a 1.300; em 1874, a 5.000; e em 1876,
depois da provisão necessária para o abastecimento local, enviava para a
Capital um comboio com 110 sacas. Isto ocorreu em 6 de março daquele
ano. O desembarque se deu na antiga Rua do Queimado, a hoje Duque de
Caxias, e constituiu uma das mais concorridas festas já celebradas no
Recife de então. Tal festa foi patrocinada pala Associação Comercial do
Recife. Logo
ao amanhecer daquele dia, grande multidão de povo de todas as classes
sociais, afluía para o ponto do esperado comboio, o extremo da Rua
Imperial, hoje Oitenta e Nove, e por todas aquelas em que tinha de
passar o caminho para o edifício da Associação Comercial.
(*) Diário de Pernambuco. Coluna Há um Século - 3.10.1980
(**) Bonito Jornal, ano 1, 3.5.1930, nº 3.
Fonte: Livro: Das Caçadas às Indústrias - Flávio José Gomes Cabral
Às 9 horas da manhã chegou a expedição, e depois de delirantemente
recebidas entre aclamações que a um só tempo rebentaram, inumeráveis
girândolas de foguetes e o toque festivo do Hino Nacional executado por
todas as bandas, partiu a expedição entre imenso cortejo, que foi assim
disposto. Depois das bandas de músicas dos corpos de guarnição que
rompiam o préstito, seguiu-se o pavilhão nacional e os membros das
Associações Comercial Beneficente e Agrícola, e depois o imenso concurso
de povo, calculado em número superior a 4.000 pessoas. Seguía-se então o
comboio, composto de 55 cargas de café, conduzidas por cargueiros que
traziam aos chapéus topes de fita das coras nacionais.
À frente do comboio caminhava um velho sertanejo a cavalo, com um
lindo ramalhete de flores naturais, trajando a roupa original de que
usam os sertanejos almocreves. Em seguida vinha três carros da Companhia
Locomotiva enfeitados com os arcos de folha de canela, fumo e café,
conduzindo o primeiro uma banda de música, e o segundo 80 latas com fumo
de corda e 5 fardos com folhas próprias para o fabrico de charutos,
também de produção do Bonito. Fechavam o préstito 11 carroças da
Sociedade União Industrial Beneficente, puxadas por bois enfeitados e
cobertos de ricos panos de labirinto, crochê e rendas.
Chegando o séquito à sede da Associação Comercial, realizou-se ali
uma sessão solene, principiando com a aposição do quadro de honra na
sala da referida Associação. Depois dessa solenidade, teve início o
leilão das 110 sacas de café. O produto da arrematação atingira a soma
de 14:782$000.
O objetivo da Associação Beneficente era mostrar a importância da
preciosa rubiácea e incentivar o seu cultivo na Província. E, para maior
júbilo, a festa da recepção do primeiro comboio de café entrado no
Recife, teve farta divulgação em todos os jornais da Capital
pernambucana. Diz ainda Pereira da Costa, que o evento animou a todos os
cafeicultores da Província. A Associação Comercial, no objetivo de
difundir o cultivo de café, mandou editar e distribuir uma "Descrição
dos festejos promovidos pela Associação Comercial Beneficente, para
receber o comboio vindo da Vila do Bonito, em 1876.
Por
essa época, o município do Bonito tinha ceca de 109 plantações de
cafeeiros, que, segundo o aludido escritor, atingiram a 530.000 pés,
possuindo, cada uma, de 500 a 20.000 pés. E em 1877, por sinal um ano de
crise, devido à saca, tal montante elevou-se a 800.000 pés, em 1878, o
município chegou a dois milhões de plantas, as quais produziram 60.000
mudas, que foram plantadas em 1873.
Nas duas última décadas do Século XIX, destaca-se o Comendador
Francisco Benício das Chagas, um grande cafeicultor e incentivador dessa
cultura. Na sua propriedade, Barra Nova, em 1880, criou um engenhoso
invento para despolpar café, movido a água. "A roda do motor, que move o
maquinismo, em uma das extremidades do serrilho tem um rodete dentado,
que trabalhava conjugado a outros, colocados no serrilho que move as
mãos do pilão"(*)
O café bonitense era tido como um dos melhores de Pernambuco. Quando
chegava ao Recife, atraia de imediato os compradores. O Diário de
pernambuco que circulou em 19 de fevereiro de 1891, fez o seguinte
anúncio sobre o café do Bonito
"Aos
apreciadores do café - o estabelecimento do Sr. João Francisco Lopes, à
Rua Duque de Caxias nº 54, acaba de receber, e expor à venda, não só
excelentes máquinas para despolpar, e ventiladores para limpar e separar
os tamanhos do grão do café, como porção do Bonito."
O Comendador Benício foi um dos maiores cafeicultores que o Bonito
possuiu. sua propriedade, à época, era tida como a que possuía as
melhores condições de aumentar o cultivo do café. Além do mais, aquele
proprietário vivia a par da situação cafeeira nacional, e procurava
estimular a cultura da rubiácea em seus domínios. Do "Diário de
Pernambuco" do dia 24 de maio de 1981, fazemos a transcrição da coluna
"Há um Século".
"Publicação
a Pedido - Agricultura - Com o fim de aperfeiçoar o plantio na Comarca
do Bonito, seguiu ontem no vapor Pernambuco, o Sr. Coronel Francisco
Benício das Chagas, que vai com o propósito de visitar as principais
fazendas de café das províncias do Rio, S. Paulo e Minas; é uma viagem
que pode trazer muitos bons resultados, para o cultivo do café nesta
Província, e com especialidade no Bonito, onde é o mesmo coronel um dos
agricultores deste gênero mais adiantados; fazemos votos para que seja
seu louvável intento coroado do mais feliz êxito. Recife, 24 de maio de
1881."
A plantação cafeeira em 1894, alcançou no Bonito 600.000 pés,
produzindo cerca de 250.000 quilos de café, produção esta, superada
apenas pela de Triunfo.
Na década de 20, o café, alcançou progresso admirável. Na exposição
Intermunicipal realizada em Garanhuns, em 1928, foi o Bonito
considerado"o maior produtor da saborosa rubiácea". Para aquela cidade,
enviou o Bonito várias espécies da sua variada policultura. Como prêmio,
conquistou o município bonitense uma estátua-troféu, oferecida pela
Secretaria da Agricultura, simbolizando a vitória. Foi enfatizado pela
comissão julgadora, que o Bonito era o mais antigo produtor de café do
Estado, e seu produto considerado o mais gostoso.
Concorreu o Bonito em 1929, na "Exposição Internacional de Sevilha",
sendo distinguido como o município pernambucano de maiores
possibilidades, demonstradas através de grande variedade de amostras dos
seu produtos. Pelas razões expostas, foi conferida, ao Bonito, uma
medalha de ouro(**).
(*) Diário de Pernambuco. Coluna Há um Século - 3.10.1980
(**) Bonito Jornal, ano 1, 3.5.1930, nº 3.
Fonte: Livro: Das Caçadas às Indústrias - Flávio José Gomes Cabral
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