Nelson Heráclito Alves Ferreira, o
"Moreno Bom", como era carinhosamente apelidado, nasceu no município
pernambucano de Bonito, a 9 de dezembro de 1902 e tornou-se, ao lado de
Lourenço da Fonseca Barbosa, o "Capiba", o mais popular compositor de
que o Nordeste tem notícia.
Nelson Ferreira
teve uma passagem tão atuante quanto brilhante no panorama musical de
Pernambuco. Ainda jovem, tocou em pensões alegres, cafés, saraus e nos
famosos cinemas Pathé, Moderno e Parque do Recife. Foi o pianista mais
ouvido na época do cinema mudo.
Foi,
um homem do disco, tornando-se diretor artístico da Fábrica Rozenblit,
instalada em Pernambuco, cuja contribuição foi marcante nessa área.
Criou também, a partir dos anos 40, uma orquestra de frevo que não só
ficou famosa em sua trajetória local, mas também extrapolou as
fronteiras de nossa região, conseguindo sucesso a nível nacional.
Seu
sorriso aberto e franco, sua bondade, seu espírito nativo e criativo,
valeram-lhe muitos amigos nos mais variados segmentos da sociedade.
Alguns, tornaram-se seus parceiros musicais, como Sebastião Lopes, "O
Bom Sebastião", no dizer de Getúlio Cavalcanti; Ziul Matos, Aldemar
Paiva e tantos outros nomes famosos da radiofonia pernambucana.
Compôs
sete evocações musicais, famosas em todo o Brasil, homenageando a
carnavalesco, jornalistas, velhos companheiros e a outros, verdadeiros
imortais da poesia e da música, como Manuel Bandeira, Ascenso Ferreira,
Athaulfo Alves, Lamartine Babo e Francisco Alves.
Várias
gerações, ao som da Orquestra de Nelson Ferreira e sob sua batuta,
brincaram carnavais inesquecíveis. Seu frevo é eterno pela força
criativa e pelo conteúdo popular. Seus amigos surgiam de todos os lados,
oriundos de todas as camadas sociais, sem preconceitos, como o ferver
do ritmo que o tornou imortal.
Nelson
é um dos nordestinos que possui o maior número de músicas gravadas na
história da discografia brasileira, embora grande parte de suas criações
seja desconhecida do resto do Brasil. Sua produção, ao lado da de
outros pernambucanos como Raul e Edgar Morais, Zumba, Levino Ferreira,
Irmãos Valença,Luiz Gonzaga e Capiba, entre alguns outros, é de uma
importância enorme no estudo das manifestações músico-sócio-culturais de
nossa região.
Inicia-se na
discografia nacional a partir de 1924 com a música "Borboleta não é
ave", em ritmo de samba, gravada pelo Grupo do Pimentel, em disco Odeon
de no 12.2381, lançada no carnaval brasileiro daquele ano. Depois,
vieram as marchas pernambucanas, as valsas, os frevos, a incursão no
rádio, veículo onde pode aprimorar e divulgar o seu talento,
aproximando-se, o compositor, cada vez mais, pela sua popularidade na
região, das fábricas de disco e dos maiores intérpretes do seu cast.
Participavam,
então, desse cast, nomes como o de Francisco Alves, Almirante, Aracy de
Almeida, Carlos Galhardo, Joel e Gaúcho, Valdi Azevedo, Inezita
Barroso, Augusto Calheiros, Minona Carneiro, Dircinha Batista, Nelson
Gonçalves, uma infinidade de orquestras, além de intérpretes
pernambucanos do maior valor, como Claudionor Germano e Expedito
Baracho. E todos eles, sem exceção, foram veículos da imortalização da
música do grande maestro.
Sua
importância como compositor popular, parece evidente, apenas, na
produção de frevos. Nas primeiras décadas do século, no entanto, Nelson
Ferreira compôs valsas que marcaram época nos cinemas, nos bailes dos
clubes sociais de todo o Nordeste, nas reuniões familiares. Valsas tão
aplaudidas na região quanto as mais populares vienenses. Tão marcantes,
essas valsas, que valeu, certa vez, do escritor Nilo Pereira, sobre
elas: "Nelson Ferreira, feiticeiro do piano, fixador dum tempo que as
suas valsas revivem como se estivessem falando. Se meia hora antes de
sair o meu enterro, tocarem as valsas de Nelson, velhas valsas tão
íntimas do meu mundo, irei em paz, sonhando."
Sua
projeção musical, em termos de Brasil, evidenciou-se de forma efetiva
em 1957, quando tornou, definitivamente popular, o frevo de bloco,
através de sua "Evocação no 1", sucesso no carnaval de todo o país, onde
ele resgata, com saudade, momentos inesquecíveis do carnaval do Recife.
"Felinto, Pedro Salgado
Guilherme, Fenelon,
Cadê seus blocos famosos?
Bloco das Flores, Andaluza,
Pirilampos, Apos-Fum,
Dos carnavais saudosos" (...)
Continua...
Fonte: fundaj.gov.br
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