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Usina Beneficente de Café - Ano desconhecido - Acervo: Profº Flávio Cabral |
Nesta sexta, dia 24 de maio, é comemorado o dia Nacional do Café, essa bebida que é uma das preferidas do brasileiro tem um dia especial. Conheça um pouco da história do café no nosso município.
A sua exploração no território do Bonito foi um pouco tardia. Pioneiros neste ramo foram o português José Francisco Veloso e o Cel. Félix Fernandes Portella. O primeiro desenvolveu o cultivo da rubiácea numa das serras do Macaco, depois Veloso. "O Imparcial", antigo jornal do Bonito, na circulação do dia 2 de março de 1935, notificou o Ato nº 9 do então Prefeito Gonçalo Sabino Pinheiro, em que o mesmo resolveu colocar nomes de pessoas ilustres em várias escolas da Zona Rural do município. Entre alguns nomes estava o do Coronel Félix Fernandes Portella, por ter sido o iniciador do plantio cafeeiro no Bonito e o primeiro a exportar a primeira remessa à Capital da Província.
Logo ao amanhecer daquele dia, grande multidão de povo de todas as classes sociais, afluía para o ponto do esperado comboio, o extremo da Rua Imperial, hoje Oitenta e Nove, e por todas aquelas em que tinha de passar o caminho para o edifício da Associação Comercial.
Às 9 horas da manhã chegou a expedição, e depois de delirantemente recebidas entre aclamações que a um só tempo rebentaram, inumeráveis girândolas de foguetes e o toque festivo do Hino Nacional executado por todas as bandas, partiu a expedição entre imenso cortejo, que foi assim disposto. Depois das bandas de músicas dos corpos de guarnição que rompiam o préstito, seguiu-se o pavilhão nacional e os membros das Associações Comercial Beneficente e Agrícola, e depois o imenso concurso de povo, calculado em número superior a 4.000 pessoas.
Por essa época, o município do Bonito tinha ceca de 109 plantações de cafeeiros, que, segundo o aludido escritor, atingiram a 530.000 pés, possuindo, cada uma, de 500 a 20.000 pés. E em 1877, por sinal um ano de crise, devido à saca, tal montante elevou-se a 800.000 pés, em 1878, o município chegou a dois milhões de plantas, as quais produziram 60.000 mudas, que foram plantadas em 1873.
(*) Diário de Pernambuco. Coluna Há um Século - 3.10.1980
Dispondo o Bonito de terras apropriadas à cultura cafeeira, esta foi-se multiplicando consideravelmente, tanto que, por volta do terceiro quartel do século XIX, o bonito se avantajara perante os demais centros produtores da rubiácea na Província.
A cultura de café preponderou sobre as demais culturas econômicas até a metade do século passado. Sua estagnação foi registrada quando o processo de industrialização conseguiu firmar-se no Brasil; é que a monocultura do café deixou de constituir o sustentáculo da economia do País e em particular a do município bonitense.
No Bonito, a cultura cafeeira beneficiou-se dos seguintes fatores: condição ecológica favorável, fertilidade do solo, baixo custo do investimento para a compra de equipamentos, ociosidade de mão-de-obra escrava provocada pela decadência da cultura da cana-de-açúcar.
Segundo Pereira da Costa, a produção do café no município, em 1872, atingiu a 800 arrobas; em 1873, a 1.300; em 1874, a 5.000; e em 1876, depois da provisão necessária para o abastecimento local, enviava para a Capital um comboio com 110 sacas. Isto ocorreu em 6 de março daquele ano. O desembarque se deu na antiga Rua do Queimado, a hoje Duque de Caxias, e constituiu uma das mais concorridas festas já celebradas no Recife de então. Tal festa foi patrocinada pala Associação Comercial do Recife.
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Antiga Fazenda de café localizada no Veloso - Foto: Edilson Costa |
Seguia-se então o comboio, composto de 55 cargas de café, conduzidas por cargueiros que traziam aos chapéus topes de fita das coras nacionais.
À frente do comboio caminhava um velho sertanejo a cavalo, com um lindo ramalhete de flores naturais, trajando a roupa original de que usam os sertanejos almocreves. Em seguida vinha três carros da Companhia Locomotiva enfeitados com os arcos de folha de canela, fumo e café, conduzindo o primeiro uma banda de música, e o segundo 80 latas com fumo de corda e 5 fardos com folhas próprias para o fabrico de charutos, também de produção do Bonito.
Fechavam o préstito 11 carroças da Sociedade União Industrial Beneficente, puxadas por bois enfeitados e cobertos de ricos panos de labirinto, crochê e rendas.
Chegando o séquito à sede da Associação Comercial, realizou-se ali uma sessão solene, principiando com a aposição do quadro de honra na sala da referida Associação. Depois dessa solenidade, teve início o leilão das 110 sacas de café. O produto da arrematação atingira a soma de 14:782$000.
O objetivo da Associação Beneficente era mostrar a importância da preciosa rubiácea e incentivar o seu cultivo na Província. E, para maior júbilo, a festa da recepção do primeiro comboio de café entrado no Recife, teve farta divulgação em todos os jornais da Capital pernambucana. Diz ainda Pereira da Costa, que o evento animou a todos os cafeicultores da Província. A Associação Comercial, no objetivo de difundir o cultivo de café, mandou editar e distribuir uma "Descrição dos festejos promovidos pela Associação Comercial Beneficente, para receber o comboio vindo da Vila do Bonito, em 1876.
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O café está na bandeira do município, simbolizando a primeira economia de Bonito |
Nas duas última décadas do Século XIX, destaca-se o Comendador Francisco Benício das Chagas, um grande cafeicultor e incentivador dessa cultura. Na sua propriedade, Barra Nova, em 1880, criou um engenhoso invento para despolpar café, movido a água. "A roda do motor, que move o maquinismo, em uma das extremidades do serrilho tem um rodete dentado, que trabalhava conjugado a outros, colocados no serrilho que move as mãos do pilão"(*).
O café bonitense era tido como um dos melhores de Pernambuco. Quando chegava ao Recife, atraia de imediato os compradores. O Diário de pernambuco que circulou em 19 de fevereiro de 1891, fez o seguinte anúncio sobre o café do Bonito
"Aos apreciadores do café - o estabelecimento do Sr. João Francisco Lopes, à Rua Duque de Caxias nº 54, acaba de receber, e expor à venda, não só excelentes máquinas para despolpar, e ventiladores para limpar e separar os tamanhos do grão do café, como porção do Bonito."
O Comendador Benício foi um dos maiores cafeicultores que o Bonito possuiu. sua propriedade, à época, era tida como a que possuía as melhores condições de aumentar o cultivo do café. Além do mais, aquele proprietário vivia a par da situação cafeeira nacional, e procurava estimular a cultura da rubiácea em seus domínios. Do "Diário de Pernambuco" do dia 24 de maio de 1981, fazemos a transcrição da coluna "Há um Século".
"Publicação a Pedido - Agricultura - Com o fim de aperfeiçoar o plantio na Comarca do Bonito, seguiu ontem no vapor Pernambuco, o Sr. Coronel Francisco Benício das Chagas, que vai com o propósito de visitar as principais fazendas de café das províncias do Rio, S. Paulo e Minas; é uma viagem que pode trazer muitos bons resultados, para o cultivo do café nesta Província, e com especialidade no Bonito, onde é o mesmo coronel um dos agricultores deste gênero mais adiantados; fazemos votos para que seja seu louvável intento coroado do mais feliz êxito. Recife, 24 de maio de 1881."
A plantação cafeeira em 1894, alcançou no Bonito 600.000 pés, produzindo cerca de 250.000 quilos de café, produção esta, superada apenas pela de Triunfo.
Na década de 20, o café, alcançou progresso admirável. Na exposição Intermunicipal realizada em Garanhuns, em 1928, foi o Bonito considerado "o maior produtor da saborosa rubiácea". Para aquela cidade, enviou o Bonito várias espécies da sua variada policultura. Como prêmio, conquistou o município bonitense uma estátua-troféu, oferecida pela Secretaria da Agricultura, simbolizando a vitória. Foi enfatizado pela comissão julgadora, que o Bonito era o mais antigo produtor de café do Estado, e seu produto considerado o mais gostoso.
Concorreu o Bonito em 1929, na "Exposição Internacional de Sevilha", sendo distinguido como o município pernambucano de maiores possibilidades, demonstradas através de grande variedade de amostras dos seu produtos. Pelas razões expostas, foi conferida, ao Bonito, uma medalha de ouro(**).
(**) Bonito Jornal, ano 1, 3.5.1930, nº 3.
Fonte: Livro: Das Caçadas às Indústrias - Flávio José Gomes Cabral
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