A COLUNA DE RAIMUNDO FLORIANO
FELINHO E O VASSOURINHAS
O Carnaval Pernambucano de 1944 foi marcado por uma "novidade", que invadiu os salões e os blocos de sujo, sendo o grande sucesso no tríduo momesco daquele ano: o frevo de rua Vassourinhas, de Matias da Rocha e Joana Batista.
Ora, direis: - Vassourinhas! Esse frevo já não existia desde os fins do Século XIX?
E eu vos direi, no entanto, que a "novidade" se constituiu nas 8
variações para saxofone que o músico e compositor Félix Lins de
Albuquerque, o Felinho, criou para dar mais graça, beleza e quentura à
linda composição, marca registrado do Carnaval de Olinda e do Recife e
que domina em todo o Brasil no cenário frevante.
Felinho criou escola. Hoje, já não se compreende mais o Vassourinhas,
sem as famosas variações. E sua invenção deu asas à imaginação dos
instrumentistas, cada qual inventando ou improvisando a seu modo, mas
sempre se baseando em sua inspiradíssima obra. Assim aconteceu com
Sivuca, Dominguinhos, Zé Gonzaga, Camarão, Arlindo dos Oito Baixos, cuja
interpretação o amigo Abílio Neto apresentou nas páginas deste jornal, e
tantos outros.
É também uma prova de fogo e destreza para todos os saxofonistas, os
quais procuram exibir sua real intimidade com as urdiduras do mestre
Felinho.
A gravação de que disponho é de 1946. Está no Álbum 78 RPM nº 15095,
da Mocambo, Lado A, cujo selo traz Felinho como intérprete, acompanhado
da Orquestra Mocambo, na época dirigida por Nélson Ferreira.
FELINHO E O FORMIGÃO
Lá no meu sertão, pro caboco dizer que é bom saxofonista, tem que dar as provas: tocar o frevo de rua Formigão de uma lapada só, inteiriço, sem tirar o sax da boca. São 2 minutos e 42 segundos de colcheias, semicolcheias, fusas e semifusas. Isso no meu sertão sul-maranhense de outrora, quando conheci dois grandes instrumentistas, Martinho Mendes e Leonizard Braúna, que realizavam essa proeza com extrema facilidade e perfeição. Foram eles os responsáveis por enorme parte das inesquecíveis peças que povoam minha memória musical.
Um dia, estando eu por lá, muito tempo depois do falecimento desses
dois mestres, consegui, em precárias condições, que um saxofonista,
cheio de cana, fizesse o registro em fita do citado frevo.
E os anos se passaram. Neste julho de 2009, depois de ter adquirido
todos os 10 volumes da coleção O Tema é Frevo, contabilizando mais de
1.400 títulos no meu acervo frevoroso, decidi ter chegado a hora de
conseguir a gravação original do Formigão, custasse o que custasse.
Lendo crônica do colunista fubânico Abílio Neto, supus que ele seria
uma boa fonte a que recorrer. E com razão. Inicialmente, ele disse não
possuí-lo. Mandei-lhe a falhuda gravação de que dispunha.
Imediatamente, ele me deu o retorno, enviando-me, em contrapartida, uma
feita por Antônio Nóbrega e creditando a autoria ao compositor e músico
Felinho. A coisa começou a esquentar.
Entrei em contato com diversos colecionadores da pesada, obtendo de
todos respostas negativas, digo, exceto um, o amigo Roberto Lapicirella (lapiccirella@oi.com.br),
de Camanducaia, MG, que me disse possuir uma gravação com tal nome, mas
que era choro e não frevo. Quase desisti, o Roberto, era a última
esperança. Mas, de repente, me veio um estalo: pedi-lhe que me mandasse o
choro, para que eu o conhecesse. Como poucos sabem, aos colecionadores
que possuem mais de cem mil fonogramas no seu acervo é impossível
conhecê-los todos, de cor, com detalhes, valendo-lhes, nos seus
controles, o que vem escrito nas capas, contracapas e selos de cada
volume.
Surpresa! Era frevo mesmo! Porém, no Álbum 78 RPM nº 15095, Lado B,
da Mocambo, de 1956, consta assim: Formigão, choro, composição e
interpretação de Felinho. No Lado A, o frevo Vassourinhas, com a
Orquestra Mocambo, tendo Felinho como solista nas 8 antológicas
variações que ele criou para a música. No caso de Formigão, como a
Orquestra Mocambo dele não participou, pode-se deduzir que a gravação
ficou a cargo de Felinho e Seu Regional. É peça rara, raríssima, agulha
no palheiro!
Tem-se notícia de que o frevo Vassourinhas, introduzindo Felinho e
seu sax-alto com suas 8 variações, foi gravado nos estúdios da PRA-8, em
1944, pela orquestra da emissora, sob a regência do Maestro Nélson
Ferreira. Sucesso absoluto no Carnaval daquele ano.
Continua...
Fonte: onordeste.com
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